terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Morada

http://static.freepik.com


Da janela - ornada com pequenos e irregulares pingos da chuva vespertina, vi minha casa, que já não era minha. A modesta casa de fantásticos sonhos infantis.

O lento movimento daquele veículo me arrebatou para outros tempos. E a vidraça se fez como uma embaçada tela de cinema.

Céus! Era a minha casa...que minha já não era. Um aposento ainda simpático, com seus quatro números presos na fachada de um azul avelhantado e cândido. Nem lembro muito bem de sua cor naqueles tempos. Cor de arco-íris, talvez.

Vi o chão dos meus pequenos pés: a calçada por onde corriam meus irmãos e os outros companheiros - infantes para todo o sempre, amém! O chão, da bandeirinha*, da correria. O mesmo chão, que nada tinha do mesmo.

Avistei a "cadeira na porta", o"ir e vir" do pai e da mãe, a roupa de domingo, a boneca do cabelo desgrenhado e o tão esperado carrinho de pipoca, com sua buzina rouca e feliz.

Em mínimos instantes, fui a menina. Pequena, descalça, dos cachos definidos - e era só o que havia de definido em mim.

É. Parece que o passado nem sempre passa. E o que importa no hoje de que me lembrarei, em alguma pequena viagem no futuro ?



Só um segredo: não é uma casa, é um castelo.





* bandeirinha: jogo, dividido em dois grupos, no qual a bandeira do grupo adversário deve ser capturada.

Um comentário:

  1. Que lindo, Anne! Tuas palavras, simplicidade, beleza, história... encantos e afagos no coração!

    ResponderExcluir