sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Caleidoscópio

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Eu te vi por dentro,
por alguns poucos minutos,
e logo os meus olhos se encheram de cor

Que grandioso cenário,
Tuas palavras montaram
diante de mim.


O dia ficou adornado,
brilhante, vivo.

E o colorido
no meu rosto
realçado por tuas mãos gentis
Fez-me ver

Que a vida surpreende
na singeleza,

E que podemos retocá-la,
realçá-la, acendê-la.
Com inesperados momentos.


Eu te olhei por dentro
e vi belas combinações
de tons.

Pequenos gestos de
nobre amizade.

Obra de arte.
Foi bonito!





sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Asas de Tinta







Ru Felicio
A menina

não quer ficar,
ela quer partir

Para outros planos...
de fundo
Outras imagens
cintilantes

Não quer ficar
Ela quer partir

Suspender os pés
descalços, enfeitados 
de vermelho



Sublime!
Ela quer ir

Tá na pele, 
nos poros, 
nos pássaros.

A menina quer ascender
acender, envolver

O chão já não equilibra
Não satisfaz. Não mais



Ela só quer voar,
avoar

Evoé!



quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Translucidez

Russelli Felicio





















Eu fui a água límpida

do copo vítreo 
que você manuseou
harmoniosamente

você bebeu de mim, absorveu-me
Levou-me para dentro

Eu saciei sua sede momentânea
Fui proveitosa, inevitável

Mas, minha transparência
Fundiu-me ao copo

E logo veio a sentença:
Quebra-se!

Eu fui água pura

Deveria ter sido tinto?
Doce, enigmático,
inebriante?

Você me perceberia
e provaria mais


Tênue, eu?
Eu tenho fogo nos olhos,
Vigor nos lábios

Frágil?
Eu mastigo vidros

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Sob as águas.

By Russelli Felicio




A rua virou rio. Corrente de água. Água corrente. Abundância. 
Corpos tensos a salvar suas coisas. Desde o início da manhã sombria.

Levantem-se ! O céu está se lamentando. Venham ver. 
Ergam isso e aquilo! Tudo o que puderem. Elevem-se!

O tempo corre. Não tão depressa quanto o novo rio. 
Alguém pode tapar as goteiras do céu? Parece que não.

O tempo corre. E já não há mais o que erguer. Foram-se os braços.

O rio já é mar. O estrondo da chuva já é música a escorrer. 
Há pequenos seres voando sobre as águas, 
fabricando desenhos...bonitos - indiferentes ao que se passa.

E quem não pode voar? E quem não tem para onde subir, nem "a coisa" para livrar? Serão levados, pelo frio? 
 Eles têm sido arrastados pelo imensidão invisível de todos os dias?

É o mundo submerso?
Alguém pode fazê-lo emergir?

Talvez o molhar seja preciso.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Morada

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Da janela - ornada com pequenos e irregulares pingos da chuva vespertina, vi minha casa, que já não era minha. A modesta casa de fantásticos sonhos infantis.

O lento movimento daquele veículo me arrebatou para outros tempos. E a vidraça se fez como uma embaçada tela de cinema.

Céus! Era a minha casa...que minha já não era. Um aposento ainda simpático, com seus quatro números presos na fachada de um azul avelhantado e cândido. Nem lembro muito bem de sua cor naqueles tempos. Cor de arco-íris, talvez.

Vi o chão dos meus pequenos pés: a calçada por onde corriam meus irmãos e os outros companheiros - infantes para todo o sempre, amém! O chão, da bandeirinha*, da correria. O mesmo chão, que nada tinha do mesmo.

Avistei a "cadeira na porta", o"ir e vir" do pai e da mãe, a roupa de domingo, a boneca do cabelo desgrenhado e o tão esperado carrinho de pipoca, com sua buzina rouca e feliz.

Em mínimos instantes, fui a menina. Pequena, descalça, dos cachos definidos - e era só o que havia de definido em mim.

É. Parece que o passado nem sempre passa. E o que importa no hoje de que me lembrarei, em alguma pequena viagem no futuro ?



Só um segredo: não é uma casa, é um castelo.





* bandeirinha: jogo, dividido em dois grupos, no qual a bandeira do grupo adversário deve ser capturada.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Das desilusões...






Manhã

É cedo. E Deus já está lavando o caminho de muitos pés.
Lá fora tá tudo da cor da cinza. Cinza do céu. Cinza da saudade queimando.
Cinza da chuva, que traz o frio, o frio que traz o desejo, o desejo que pede o abraço.

Chuva indecisa, que ora desaba forte como a minha vontade de te ver...ora, 
desce calma como a serenidade que ganho na certeza de te ouvir.

Preciso fazer o meu dia lá fora, pôr os pés no caminho. Mas ainda estou parada
no espaço e no tempo. Ainda estou em balbucios  sonolentos da madrugada.
Ainda estou no silêncio da espera. Ainda estou na sua voz.

Estou indo...e sem guarda-chuva.

Florescência



Há dias em que o presente parece seco, infértil, cansado.
Sem ânimo para verter-se em futuro.

O medo, a frustração e a derrota contaminam o solo.

Por isso, preciso arrumar meu quintal. 


Quero quintal de roupa no varal, de borboletas no estômago, 
de sombras de árvores, de criança correndo, de flora.

Do passado? Prefiro dar a mão ao que abriu meu sorriso. 
Só quero o bom dessa saudade.

E assim, espero o dia em que vou acordar - esfregar os olhos acanhados,  sonolentos - e encontrar muitas, muitas flores. Por dentro...de mim.

Grandes e viçosos copos-de-leite, prontos, a nutrir minha alma.

E eis que tudo será flor.

Em breve será.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Aflição






Silêncio. É tarde.

Mas os olhos permanecem acesos, arrebatados, negros - em traquinagem. Eles teimam em presenciar traçados, arranjos, o riscado, o reescrito.

Mas era para ser assim?

As costas doloridas queriam o colchão, forrado com o lençol estampado, surrado, com cheiro de recém-lavado.

Mas, a negritude dos olhos, precisava ver frases, algumas pelo menos, as necessárias.

Só que não poderia ser a todo custo. Haveria de ter leveza, intrepidez. Sim, haveria de ter Audácia!

Então, seria lindo o momento em que a palavra correria, sem  nenhuma ajuda - nada de mão de pai segurando, por trás, o banco da bicicleta do rebento inseguro. A palavra correria, altiva, a ponto de se transformar em muitas: em todas as palavras do mundo.